Parte 2 - Esconderijos Psíquicos…
No artigo anterior, iniciamos uma reflexão sobre as dores do crescimento e a intricada transição da infância para a adolescência… sobre o drama do corpo que adolesce, mas uma transição psicológica para fase posterior que não acontece. Nestes casos, a criança fica perdida no inconsciente arcaico e não podendo mais se manifestar como criança - pois o meio lhe cobra novas posturas - terá de adotar esconderijos psíquicos para se manifestar.
Assim como o homem, a criança é uma força que reside no nosso psiquismo. Dentre os padrões arquetípicos que temos assentados no nosso arcabouço psíquico, a criança é a força invisível mais recente e encontrá-la, observá-la e compreender seu funcionamento será de suma importância para o processo de organização de nossa área invisível e retomada do nosso crescimento.
Certa feita, a Equipe de Amor à Luz colocou que entrar em contato e educar a criança em nossa intimidade é confrontar com a área religiosa e sexual em nós. É o começo para a maioridade, pois estas forças andam juntas e são inseparáveis. Assim, quando você se educa em qualquer um desses aspectos, você se educa em todos.
Sendo a criança nossa memória inconsciente mais recente, comecemos a rebobinar a área invisível através dela e certamente encontraremos outras forças e padrões mais arcaicos a ela associados e por ela utilizado nas suas manifestações.
Mas por que esta força busca escaninhos no inconsciente arcaico para se refugiar? Do que ela se esconde e o que objetiva com esse padrão? Como constrói suas tocas e escolhe seus esconderijos? Retomemos um pouco do processo de desenvolvimento na fase infantil para buscar o entendimento destes fatores.
A infância é uma fase da existência humana, portanto, deve ser avaliada pelo educador como período que desaparecerá, para surgimento da fase posterior, que se estruturará nas vibrações construídas e recebidas no período precedente. Neste período não se inicia a vida, tem-se a continuidade dela. O ser na fase infantil não é novo, ele dá início a novas aspirações, contando com os educadores, a realidade e as invioláveis disciplinas que a vida invariavelmente impõe para se organizar.
A infância é o período em que o ser frágil e dependente, sem a ação da vontade e da energia sexual, se torna moldável às novas impressões. Conta neste período com seus educadores para desvendar seu caráter, observar suas tendências e empreender uma firme ação educativa, no sentido de lhe construir os filtros do caráter.
A psique na fase infantil se apresenta num movimento quase letárgico, se preparando para despertar na fase adolescente, quando então vai se efetivando a descarga do passado mapeado, integrando-se a zona consciente. Agora imagine esse despertar sem os filtros do caráter, em meio à ações que em vez de cumprirem com sua função educativa de estruturar através de novas impressões, reforçaram tendências e o caráter da criança.
Teremos o ser recebendo um solavanco no período da descarga hormonal e um despertar em meio a uma grande confusão, onde ele é assombrado pelo medo de um passado que vai se integrando à visão infantil de mundo, esmagando a criança que assustada procura se esconder atrás da figura disforme do adolescente.
O adolescer não foi bem concebido, restando à criança psicológica se refugiar em meio à dor profunda de não estar preparada para lidar consigo mesma, num desacordo muito grande, quase insuportável, entre o que sente e a realidade.
Agora, em meio à nova realidade contra a qual é confrontado, resta-lhe lançar mão de formas de manifestação que lhe garantam uma aceitação e acolhida pelo meio. Assim, esconde-se a criança psicológica e são adotadas formas estereotipadas de manifestação como mecanismos de sobrevivência emocional num meio hostil para o qual a criança não se sente minimamente estruturada para enfrentar.
Numa profunda dor, refugia-se a criança no inconsciente arcaico, vagando sem direção, sorvendo a angústia de carregar em si as vibrações recebidas no período infantil, totalmente em desacordo com suas necessidades e incapaz de barrar o intenso fluxo de energias do passado, clamando por organização.
Continuamos….
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