domingo, 24 de julho de 2011

Síndrome do Desconhecimento Interior - SIDI


Ao olharmos para nós mesmos encontraremos um ser com
múltiplos sentimentos, sendo a maioria deles desconhecidos.
Eis o grande desafio: Descortinar-se!

O que é a SIDI?

Seres inteligentes e portadores de autoconsciência, precisamos sentir e admitir que “Há Vida Interior”, e, assim, começar a perscrutar essa Vida, atravessando o mundo de efeitos, que equivocadamente chamamos de mundo real, para se chegar a este mundo causal, de onde partem verdadeiramente todos os nossos impulsos.
A incapacidade de sentir e a ausência de admissão da Vida Interior produzem insatisfação, insensibilidade e uma sensação de se estar perdido em si mesmo. Na intimidade há gritos surdos, mas opressores, impedindo-nos de sentir conforto em nossa própria companhia. Quando ficamos acompanhados de nós mesmos, logo nos distraímos e buscamos ocupações que nos impedem de lidar com o desconhecido que habita em nossa intimidade. Este estado gera uma série de reações emocionais que ampliam nosso sofrimento. A elas damos o nome de “Síndrome do Desconhecimento Interior (SIDI)”.
A Síndrome do Desconhecimento Interior (SIDI) é caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas provenientes da falta de acesso do Ser ao seu mundo íntimo, que sofre a pressão de suas próprias movimentações internas, sem conseguir delas tomar consciência.
Numa profunda desconexão do que se passa em seu mundo interior, sente angústia e tensão quase constante sem conseguir precisar as causas. Por desconhecer a si mesmo, e pela momentânea incapacidade de sentir seu mundo íntimo tenta explicar e justificar tudo o que lhe ocorre a partir do exterior, atribuindo a seres, fatos e situações as causas de seu desconforto e de sua dor. Ignora as reais causas de suas movimentações, seu comportamento, dor e sofrimento, que operam silenciosamente em sua intimidade.

Quem são seus portadores?

Aqueles que ignoram seu mundo íntimo, não conseguindo estabelecer a conexão do interior com o exterior. São possuidores de sinais e sintomas característicos da incapacidade de sentir com a negação, ou resistência, em admitir que existe Vida Interior.
A baixa tolerância de que são portadores dificulta os aspectos da convivência. Geralmente se consideram a medida do mundo e sentem-se contrariados com facilidade, pois não reconhecem que sobre certas coisas eles nada sabem e não têm controle. Não sabem conviver com ninguém, pois desconhecem como viver de si mesmos.

Sinais e sintomas

  • inflexibilidade nos relacionamentos: eu sou a medida do mundo;
  • baixa tolerância a contrariedades: como tu ousas fazer isso comigo?
  • oscilações de humor: sou diversos, mas nunca eu mesmo;
  • identificação das dificuldades somente no externo: quem será meu algoz, hoje?
  • insatisfação permanente: reclamações exageradas e repetitivas;
  • irritabilidade frequente: sensação de ausência de pele;
  • ansiedade: dificuldade de se concentrar em um ponto específico;
  • estresse: cansaço constante, extrema dificuldade em relaxar;
  • angústia: sensação de que o coração sumiu do peito, ou explodirá nele;
  • solidão: por mais que eu fale, ninguém consegue me ouvir;
  • medo: busca de padrões que produzam uma aparente segurança.

Palestra: "A Síndrome do Desconhecimento Interior"

Fundamentos

Consideramo-nos cultos, porém nos comportamos, muitas vezes, de forma endurecida, nos sentimos insensíveis, perdidos, soterrados de informações, e cada vez mais insatisfeitos interiormente, pois em nossa intimidade há gritos surdos em forma de ecos dilacerantes, a nos oprimir, impedindo-nos de sentir conforto em nossa própria companhia.
Quando ficamos acompanhados de nós mesmos, logo nos distraímos e buscamos ocupações que nos impeçam de lidar com o desconhecido que habita nossa intimidade.
A “Síndrome do Desconhecimento Interior” é ignorada por aquele que a possui, que busca, de todas as formas exteriores, alívio para os inúmeros sintomas provocados por ela.
Sintomas estes que pulam de sua intimidade, mas que são atribuídos ao exterior. O indivíduo não sabe conviver com ninguém, pois desconhece como viver de si mesmo. Ao dirigir nossa inteligência para o nosso interior, encontramos um ser indefinido, recoberto de inúmeras máscaras para talvez tentar justificar a sua frágil existência e esquecer que vive sem uma razão determinada.
É por isso que nos lançamos tanto ao exterior e procuramos tantos afazeres nele, pois trilhar o caminho interior é caminhar rumo ao desconhecido.

Objetivo

Pretendemos com este trabalho, desenvolver junto aos participantes, uma visão mais ampla sobre os sinais e sintomas que o Desconhecimento Interior tem acarretado, atualmente, aos seres na Terra.

Resultado

“Eu sou o responsável por tudo o que acontece em minha volta”. A partir desta reflexão, que pode se tornar uma constatação, o indivíduo se posiciona proativamente em relação a todos os fatos e acontecimentos que considera bons ou maus.
Daí em diante, a liberdade de pensamento o conduz a posturas firmes e produtivas em seu meio. Auto-responsabilização e, consequentemente, autogestão são as ferramentas para a continuidade da vida contemporânea.

A quem se destina

Empresas, grupos (sociais, políticos, religiosos, educacionais, etc.), comunidades de maneira geral que queiram se aprofundar na temática do autoconhecimento.

Agenda

Palestras confirmadas:
Curitiba (PR) - 30 de agosto de 2011, terça-feira
Duartina (SP) - 16 de setembro de 2011, sexta-feira
Palestras a confirmar:
Rio de Janeiro (RJ) - outubro de 2011

DVD

Em breve lançaremos um DVD com a palestra “A Síndrome do Desconhecimento Interior”, aguarde!
Para reservar o seu ou mais informações, envie um e-mail para contato@tempodeser.org.br

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Os Desafios do Crescimento…(Série: Parte Final)

Os Desafios do Crescimento…
Esconderijos Psíquicos…
Nos artigos anteriores abordamos a questão de que trazemos no nosso arcabouço psíquico a criança
que fomos um dia. Ela permanece aprisionada em nosso psiquismo como uma força viva e atuante
que não se esconde e fica quieta, mas se utiliza de arquétipos, os ditos esconderijos psíquicos para
encobrir suas dores.
Um arquétipo amplamente utilizado como esconderijo psíquico das dores infantis é o do religioso.
Este oferece amplas vantagens e se encaixa perfeitamente na movimentação psicológica infantil.
Através deste arquétipo reforça-se a área infantil, onde se atribui a uma força fora de si mesmo, a
um Deus, um guia religioso, sacerdote ou salvador a responsabilidade pelo que se vive, sustentando
a dependência, impotência e fragilidade infantil.
Reforça-se ainda através deste esconderijo a dissimulação dos sentimentos, onde os ditos
sentimentos malsãs são encobertos por uma imagem idealizada, onde predominam conquistas
espirituais ilusórias que são amplamente reforçadas pelo meio e geram a falsa noção de suprimentos
das necessidades infantis de aprovação e validação…..assim, continua-se a reproduzir o triste
capítulo infantil de uma história onde aprende-se que para sobreviver emocionalmente é preciso
abafar, negar e reprimir sentimentos e tendências para ser aceito, arremessando-se cada vez mais
longe de sua essência e das verdadeiras e reais conquistas espirituais.
Continua-se assim a reproduzir o faz de conta infantil idealizando um salvador fora de si, que
apontará o caminho a ser seguido ou ainda, de uma forma mágica retirará “seus pecados” e o
conduzirá para uma vida jubilosa.
Forçoso é admitir que estamos prisioneiros da infância, adultos infantilizados, dominados pela força
psicológica infantil. Altamente carentes, vivenciando amplamente o sentimento de abandono e
solidão, a espera de encontrarmos alguém que se encarregue de cuidar de nós e suprir nossas
necessidades. Irresponsavelmente permanecemos estacionados a espera de um milagre que nos tire
da situação que estamos e atribuindo as causas exteriores a razão das nossas dores.
Sustentamos ainda em nossa área psicológica infantil, a imagem dos pais poderosos, mitológicos,
responsáveis por tudo que nos ocorre, permanecendo cativos e dependente de sua aprovação e na
eterna busca de seu amor. Todo o meio, parceiros, filhos, amigos, chefes, autoridades religiosas vão
sofrendo a projeção da representatividade de nossos pais e vamos transferindo essa cadeia de
dependência, expectativas, buscas e frustrações.
Ouso dizer que além de uma criança cativa dentro de nós, temos nossos pais aprisionados como
imagens, verdadeiros fantasmas a nos perseguir e assombrar. É preciso libertar a criança e
juntamente com ela seus pais, compreendendo que estes são individualidades tão humanamente
sobreviventes emocionais quantos nós, aprisionados a seus próprios dramas e conflitos, carentes de
também se libertarem.
Ao longo dos estudos que tenho feito sobre essa área psicológica infantil e através dos relatos que
tenho ouvido, percebe-se que a grande dor infantil reside no fato de não ter se sentido visto e
devidamente percebido pelos pais na sua essencialidade, pois numa esmagadora maioria, os pais
enxergam em seus filhos a própria representatividade de sua criança interna.
http://www.tempodeser.org.br/ Impresso em 03/02/2011 05:44
http://www.tempodeser.org.br/comunicamcorm:purnivic:aedmiocar:op8r0iv:o:esd_idceasoa8fi0o:so_sd_odecsraefisocsimdeon_tcorescimento Última atualização: 29/12/2010 10:16
Essa dor tão inerente ao processo humano precisa ser encarada e enfrentada. No estágio humano de
consciência é assim, não somos realmente vistos e percebido em nossa individualidade por nossos
pais ou cuidadores e aqueles que tiverem filhos dentro desta etapa de consciência reproduzirão o
mesmo padrão, mantendo-se um ciclo repetitivo.
Precisamos encarar também que nunca vimos nossos pais além do papel que eles representaram e
assumiram em nosso psiquismo. Percebidos pela visão e ótica infantil foi a eles atribuído um papel
definido em nossa vida e inúmeras projeções. Assumiram a representatividade de verdadeiros mitos,
Deuses em nosso mundo inconsciente e assim permaneceram ali aprisionados. Como mitos
permaneceram idealizados, intocáveis, admiráveis, temidos e totalmente desconhecidos. Mais uma
cela construída da qual precisamos nos libertar.
Quem são os seres que estão ou estiveram nossos Pais? Alguma vez vislumbramos ainda que
palidamente a individualidade por detrás do papel de Pai ou Mãe? Interessamo-nos e sensibilizamos
em algum momento pela sua trajetória? Tivemos algum desejo real em conhecê-los ou não passaram
de meros supridores de nossas necessidades infantis?
Urgente se faz nos tirar da posição infantil de responsabilizar nossos pais por tudo que vivemos hoje
e nos assumirmos como autores de nossas Vidas. Tendo em vista nossa longa jornada humana até
aqui, é necessário concluir que os pais da atualidade são somente uma pequena fração na Vida que
somos. Quando aqui aportamos já carregávamos conosco o patrimônio de nossa jornada evolutiva e
milênios de sobrevivência: A Dor.
Olhemos para nossas dores, não mais como crianças responsabilizando fatos, seres e situações fora
de nós por elas. Sentir é inerente ao ser sensível e a dor nada mais é que um estágio de
sensibilização do Ser essencial que somos.
Que possamos nos capacitar para olhar nossas dores e admiti-las como patrimônio nosso, fruto da
jornada humana, buscando suas causas e superações no único local possível: dentro de nós.
Está na hora de contarmos para nós que não aparecerá um salvador como nos contos e mitos
infantis para nos resgatar…. este trabalho é íntimo, intransferível e cabe a cada essencialidade em si
mesma. Necessário se faz renunciar a dependência e passividade e começarmos a nos ver como
seres aptos e capazes de direcionar a Vida que somos.
Para tanto, atravessaremos um longo caminho por um local onde nunca estivemos - nosso
inconsciente, esta área invisível onde se esconde esta força infantil que tem travado a marcha da
inteligência que somos nos mantendo cativos a padrões e defesas cristalizadas que não se sustentam
mais e são hoje motivo de distorções e de nossas maiores dificuldades.
Enfim, precisaremos reconhecer que estamos cansados, muito cansados de nos defender, fugir e
atacar, dentro de um ciclo repetitivo, onde percebemos e sentimos a Vida por um estreito vão…. o
vão de uma visão infantil, humana, superlativa e ausente de responsabilidade que já não nos cabe
mais.
Tenhamos coragem para penetrar no desconhecido mundo íntimo, enfrentar suas dores, iluminar a
área sombria dos sentimentos que lutamos para manter encobertos e trazê-los à luz da consciência.
Somente assim, retomaremos ao ponto do caminho onde travamos a marcha e caminharemos para
uma Vida consciente, responsável e autônoma.
Não cultivemos mais visões infantis e ilusões pueris, desenvolver a espiritualidade é nos colocar de
frente as forças construídas em nossa área inconsciente.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Série: Os desafios do Crescimento..Final


Parte Final Esconderijos Psíquico.

Nos artigos anteriores, abordamos a questão de que trazemos no nosso arcabouço psíquico a criança que fomos um dia. Ela permanece aprisionada em nosso psiquismo como uma força viva e atuante, que não se esconde e fica quieta, mas se utiliza de uma força ou arquétipo, os ditos esconderijos psíquicos para encobrir suas dores.

Um arquétipo amplamente utilizado como esconderijo psíquico das dores infantis é o arquétipo do religioso. Um arquétipo que oferece amplas vantagens e se encaixa perfeitamente na movimentação psicológica infantil.

Através deste arquétipo reforça-se a área infantil, onde se atribui a uma força fora de si mesmo, no caso, o Pai Todo poderoso, a responsabilidade pelo que se vivencia, sustentando a dependência, impotência e a fragilidade infantil.

Reforça-se, ainda, através deste esconderijo, a dissimulação dos sentimentos, onde os ditos sentimentos malsãos são encobertos por uma imagem idealizada, onde predominam conquistas espirituais ilusórias, que são amplamente reforçadas pelo meio e geram a falsa noção de suprimentos das necessidades infantis de aprovação e validação. Assim, continua-se a reproduzir o triste capítulo infantil de uma história, onde se aprende que para sobreviver emocionalmente é preciso abafar, negar e reprimir sentimentos e tendências para ser aceito, arremessando-se cada vez mais longe de sua essência e das verdadeiras e reais conquistas espirituais.

Continua-se, assim, a reproduzir o faz-de-conta infantil, através deste esconderijo religioso, idealizando um salvador fora de si que, de uma forma mágica, retirará “seus pecados” e o conduzirá para uma vida jubilosa.

Forçoso é admitir que estamos prisioneiros da infância, adultos infantilizados, dominados pela energia psicológica infantil. Altamente carentes, vivenciando amplamente o sentimento de abandono e solidão, à espera de encontrarmos alguém que se encarregue de cuidar de nós e suprir nossas necessidades. Irresponsavelmente, permanecemos estacionados, aguardando um milagre que nos tire da situação em que estamos, atribuindo às causas externas a razão das nossas dores.

Sustentamos, ainda, em nossa área psicológica infantil, a imagem dos pais poderosos, mitológicos, responsáveis por tudo que nos ocorre, permanecendo cativos e dependentes de sua aprovação, na eterna busca de seu amor. Todo o meio, parceiros, filhos, amigos, chefes, autoridades religiosas vão sofrendo a projeção da representatividade de nossos pais e vamos transferindo essa cadeia de dependência, expectativas, buscas e frustrações.

Ouso dizer que além de uma criança cativa dentro de nós, temos nossos pais aprisionados como imagens, verdadeiros fantasmas a nos perseguir e assombrar. É preciso libertar a criança e, juntamente com ela, seus pais, compreendendo que estes são individualidades tão humanamente sobreviventes emocionais quanto nós, aprisionados a seus próprios dramas e conflitos, carentes também de libertação.

Ao longo dos estudos que tenho feito sobre essa área psicológica infantil e através dos relatos que tenho ouvido, percebe-se que a grande dor infantil reside no fato de não ter se sentido visto e devidamente percebido pelos pais na sua essencialidade, pois numa esmagadora maioria, os pais enxergam em seus filhos a própria representatividade de sua criança interna.

Essa dor, tão inerente ao processo humano, precisa ser encarada e enfrentada. No estágio humano de consciência é assim, não somos realmente vistos e percebidos, em nossa individualidade, por nossos pais ou cuidadores e, aqueles que tiverem filhos dentro desta etapa de consciência, reproduzirão o mesmo padrão.

Precisamos encarar, também, que nunca vimos nossos pais além do papel que eles representaram e assumiram em nosso psiquismo. Percebidos pela visão e ótica infantil foi a eles atribuído um papel definido em nossa vida e inúmeras projeções. Assumiram a representatividade de verdadeiros mitos, deuses em nosso mundo inconsciente e, assim, permaneceram ali aprisionados. Como mitos permaneceram idealizados, intocáveis, admiráveis, temidos e totalmente desconhecidos. Mais uma cela construída da qual precisamos nos libertar.

Quem são os seres que estão ou estiveram nossos Pais? Alguma vez vislumbramos, ainda que palidamente, a individualidade por detrás do papel de Pai ou Mãe? Interessamo-nos e sensibilizamo-nos em algum momento pela sua trajetória? Tivemos algum desejo real em conhecê-los ou não passaram de meros supridores de nossas necessidades infantis?

Urgente se faz nos tirar da posição infantil, de responsabilizar nossos pais por tudo que vivemos hoje e de nos assumirmos como autores de nossas Vidas. Tendo em vista nossa longa jornada humana até aqui, é necessário concluir que os pais da atualidade são somente uma pequena fração na Vida que somos. Quando aqui aportamos, já carregávamos conosco o patrimônio de nossa jornada evolutiva e milênios de sobrevivência: a Dor.

Olhemos para nossas dores, não mais como crianças responsabilizando fatos, seres e situações fora de nós por elas. Sentir é inerente ao ser sensível e a dor nada mais é que um estágio de sensibilização do Ser essencial que somos.

Que possamos nos capacitar para olhar nossas dores e admiti-las como patrimônio nosso, fruto da jornada humana, buscando suas causas e superações no único local possível: dentro de nós.

Está na hora de contarmos para nós que não aparecerá um salvador como nos contos e mitos infantis para nos resgatar…, este trabalho é íntimo, intransferível e cabe a cada essencialidade em si mesma. Necessário se faz renunciar à dependência e passividade e começarmos a nos ver como seres aptos e capazes de direcionar a Vida que somos.

Para tanto, atravessaremos um longo caminho, por um local onde nunca estivemos - nosso inconsciente, esta área invisível, onde se esconde esta força infantil que tem travado a marcha da inteligência que somos, nos mantendo cativos a padrões e defesas cristalizados, que não se sustentam mais e são, hoje, motivo de distorções e de nossas maiores dificuldades.

Enfim, precisaremos reconhecer que estamos cansados, muito cansados de nos defender, fugir e atacar, dentro de um ciclo repetitivo, onde percebemos e sentimos a Vida por um estreito vão, o vão de uma visão infantil, humana, superlativa e irresponsável que já não nos cabe mais.

Tenhamos coragem para penetrar no desconhecido mundo íntimo, enfrentar nossas dores, iluminar a área sombria dos sentimentos, que lutamos para manter encobertos e trazê-los à luz da consciência. Somente assim, retomaremos o ponto do caminho onde travamos a marcha e caminharemos para uma Vida consciente, responsável e autônoma.

Não cultivemos mais visões infantis e ilusões pueris. Desenvolver a espiritualidade é nos colocar de frente às forças construídas, em nossa área inconsciente.

Boa jornada a todos!

Claudia Lourenço de Carvalho

Série: Os desafios do Crescimento..III

Parte 3 Esconderijos Psíquicos…

Tristemente, constatamos que a grande maioria da humanidade, se constitui de infantos ou crianças “cuidadas”, que tem suas necessidades físicas supridas, mas não foram percebidas em sua realidade psíquica e sentimental. Crescem fisicamente, mas aprendem, desde cedo, a sobreviver emocionalmente a inúmeras dores, em meio a profundo sentimento de abandono, solidão e carência.

Aprendem a erguer inúmeras barreiras e defesas para sobreviver. Criam esconderijos e abafam a expressão infantil para garantir receber, ainda que minimamente, alguma cota de afeto e segurança por parte de seus cuidadores.

Este espaço seria por demais exíguo para relatar todos os pequenos e grandes dramas da fase infantil, e os movimentos de sobrevivência emocional iniciados neste período. A título de ilustração, destacamos um pouco da movimentação infantil e de como e porque vamos aprendendo a construir os esconderijos.

O ser na infância está pleno de vitalidade, curiosidade, é portador de um cérebro novo e ávido por coletar novas impressões. Tudo isso gera uma movimentação excessiva e irrequieta por parte da criança que, na maioria das vezes, cansa e aborrece os adultos. Além do que, a criança ainda não esta em pleno domínio de seu corpo, e movimenta-se descoordenadamente, derrubando as coisas e trombando.

Muitos pais tolhem e punem exageradamente esses movimentos naturais, com ações violentas e intempestivas, frases desastrosas e ainda pior, com a ameaça da retirada do seu amor caso a criança não se comporte segundo aquilo que eles consideram adequado e conveniente, mesmo que isso seja totalmente contrário ao que é necessário e conveniente ao desenvolvimento infantil.

Diante do monstruoso medo de perder o afeto de seus pais, do qual é totalmente dependente, a criança condena-se muitas vezes a não agir feito criança. Terá que bloquear sua expressão infantil e adotar um comportamento artificial e totalmente atípico para agradar os pais e ter garantido algum afeto e segurança.

Tenta assim imitar uma movimentação adulta, à custa de muita dor e abafamento. Iniciam-se aí as criações dos mais diversos esconderijos psíquicos da criança. Esconde-se a criança do olhar e desaprovação do adulto, das experiências dolorosas e traumáticas, humilhantes e vergonhosas através da criação de uma imagem, que começa a ser cuidadosamente delineada, para ser validada pelos pais e depois pelo meio.

Vamos reforçando e adensando essa criação de tal forma que acabamos por nos confundir com ela e por acreditar que somos essa imagem que um dia inventamos para nos proteger. Sustentamos e protegemos por anos a fio essa “imagem ideal” que construímos, até que, desgastados e cansados de representar um papel que nos aprisiona e consome, nos quedamos à triste realidade de admitir que não sabemos quem somos e abafamos nossa individualidade, que não encontrou a projeção de uma personalidade estruturada para se manifestar.

A ignorância cria estes quadros dolorosos, onde a criança, que fomos um dia, foi abafada e constrangida na sua expressão, incompreendida em suas necessidades psíquico-sentimentais, sendo forçada a assumir papéis para ser aceita e, assim, sobreviver emocionalmente.

Frequentemente, vemos crianças que, desde cedo, desistiram de contrariar os pais e começaram a querer agradá-los cuidando para que eles não ficassem excessivamente bravos e descontrolados. São as crianças “boazinhas”, bem comportadas, sempre solicitas e prontas para concordar e apaziguar as situações a sua volta. Aparentemente tranquilas, meigas, raramente expressam contrariedades e parecem lidar bem com as frustrações. Escolheram essa forma de esconderijo para se manifestar, à custa de intenso e sofrido abafamento da raiva que carregam em si, aprendendo desde cedo a negar o que sentem, acreditando, firmemente, que somente assim serão aceitas.

Outras se escondem por detrás do modelo de esmero e perfeição, se esforçam para fazer tudo certo e nunca errarem, geralmente se dedicando muito no estudo para se tornarem os melhores alunos da turma, garantindo, assim, receberem a tão desejada e custosa validação por parte dos pais e do meio. São as crianças “assertivas”, estudiosas, esforçadas, que tentam adotar um modelo de atuação perfeito, para serem admiradas e aceitas, numa total incoerência com sua realidade íntima.

Certa feita, uma mãe me procurou e solicitou atendimento para sua filha de onze anos. Relatava que ela havia sido adotada com poucos meses de vida, fato este que ela tinha pleno conhecimento. Apresentava um comportamento muito introspectivo e pouco afetivo, dizia que não gostava de abraços, beijos, recusando o toque materno, mas ao mesmo tempo demonstrando muito ciúmes do relacionamento mais afetivo da mãe com a irmã menor, também adotada. Relatava ainda a mãe, que apresentava comportamento muito independente e autossuficiente, recusando auxílio para realizar qualquer tarefa.

Após alguns atendimentos, ficou muito claro o núcleo conflituoso daquela criança que se escondia atrás de um estereótipo de força e independência. Na realidade, esse esconderijo era utilizado para se proteger dos seus medos mais profundos e sobreviver emocionalmente a suas dores.

Ao pinçar essas dores, ela pode trazer para consciência o medo de se abrir afetivamente para a mãe adotiva. Projetou toda a carga de raiva sentida pela mãe biológica na representação de sua mãe adotiva e era, constantemente, assombrada pelo medo que esta a abandonasse. Desenvolveu a firme crença de que precisava aprender a se bastar, vivendo o doloroso conflito entre o desejo intenso de ser amada e acolhida por aquela mãe e o medo constante de que ela poderia lhe abandonar a qualquer momento.

Negava-se o direito de dar e receber o afeto materno por um medo profundo de ser rejeitada novamente. Escondeu seu medo, sua dor, sua raiva e toda a fragilidade e dependência infantil atrás de uma imagem de força, autossuficiência e independência, que estava longe se possuir. Esse foi o esconderijo adotado para sobreviver emocionalmente ao medo do abandono e da rejeição.

Concluímos que, desde a mais tenra idade na fase infantil, somos conclamados pela lei de sobrevivência, nos tornando mestres na arte de criar esconderijos psíquicos, para encobrir nossos reais sentimentos, que o meio se encarrega de demonstrar de todas as formas possíveis, que devemos negar, abafar e relegar.

Assim, utilizar esconderijos já construídos na etapa do período infantil, será um caminho natural a ser reforçado, na impossibilidade de fazer a transição da infância para a adolescência.

Cronologicamente, encerra-se a etapa infantil e inicia-se a adolescência, mas a criança que fomos um dia, continua como uma força viva e atuante no nosso psiquismo, permanece ali escondida, travando a inteligência e à espera que um dia seja encontrada, seus esconderijos desmontados e ela possa, finalmente, se manifestar para ser esclarecida, amparada e estruturada para amadurecer.

Continuamos no próximo artigo, abordando um instigante esconderijo da criança: As áreas religiosas.

Série: Os desafios do Crescimento....II

Parte 2 - Esconderijos Psíquicos…

No artigo anterior, iniciamos uma reflexão sobre as dores do crescimento e a intricada transição da infância para a adolescência… sobre o drama do corpo que adolesce, mas uma transição psicológica para fase posterior que não acontece. Nestes casos, a criança fica perdida no inconsciente arcaico e não podendo mais se manifestar como criança - pois o meio lhe cobra novas posturas - terá de adotar esconderijos psíquicos para se manifestar.

Assim como o homem, a criança é uma força que reside no nosso psiquismo. Dentre os padrões arquetípicos que temos assentados no nosso arcabouço psíquico, a criança é a força invisível mais recente e encontrá-la, observá-la e compreender seu funcionamento será de suma importância para o processo de organização de nossa área invisível e retomada do nosso crescimento.

Certa feita, a Equipe de Amor à Luz colocou que entrar em contato e educar a criança em nossa intimidade é confrontar com a área religiosa e sexual em nós. É o começo para a maioridade, pois estas forças andam juntas e são inseparáveis. Assim, quando você se educa em qualquer um desses aspectos, você se educa em todos.

Sendo a criança nossa memória inconsciente mais recente, comecemos a rebobinar a área invisível através dela e certamente encontraremos outras forças e padrões mais arcaicos a ela associados e por ela utilizado nas suas manifestações.

Mas por que esta força busca escaninhos no inconsciente arcaico para se refugiar? Do que ela se esconde e o que objetiva com esse padrão? Como constrói suas tocas e escolhe seus esconderijos? Retomemos um pouco do processo de desenvolvimento na fase infantil para buscar o entendimento destes fatores.

A infância é uma fase da existência humana, portanto, deve ser avaliada pelo educador como período que desaparecerá, para surgimento da fase posterior, que se estruturará nas vibrações construídas e recebidas no período precedente. Neste período não se inicia a vida, tem-se a continuidade dela. O ser na fase infantil não é novo, ele dá início a novas aspirações, contando com os educadores, a realidade e as invioláveis disciplinas que a vida invariavelmente impõe para se organizar.

A infância é o período em que o ser frágil e dependente, sem a ação da vontade e da energia sexual, se torna moldável às novas impressões. Conta neste período com seus educadores para desvendar seu caráter, observar suas tendências e empreender uma firme ação educativa, no sentido de lhe construir os filtros do caráter.

A psique na fase infantil se apresenta num movimento quase letárgico, se preparando para despertar na fase adolescente, quando então vai se efetivando a descarga do passado mapeado, integrando-se a zona consciente. Agora imagine esse despertar sem os filtros do caráter, em meio à ações que em vez de cumprirem com sua função educativa de estruturar através de novas impressões, reforçaram tendências e o caráter da criança.

Teremos o ser recebendo um solavanco no período da descarga hormonal e um despertar em meio a uma grande confusão, onde ele é assombrado pelo medo de um passado que vai se integrando à visão infantil de mundo, esmagando a criança que assustada procura se esconder atrás da figura disforme do adolescente.

O adolescer não foi bem concebido, restando à criança psicológica se refugiar em meio à dor profunda de não estar preparada para lidar consigo mesma, num desacordo muito grande, quase insuportável, entre o que sente e a realidade.

Agora, em meio à nova realidade contra a qual é confrontado, resta-lhe lançar mão de formas de manifestação que lhe garantam uma aceitação e acolhida pelo meio. Assim, esconde-se a criança psicológica e são adotadas formas estereotipadas de manifestação como mecanismos de sobrevivência emocional num meio hostil para o qual a criança não se sente minimamente estruturada para enfrentar.

Numa profunda dor, refugia-se a criança no inconsciente arcaico, vagando sem direção, sorvendo a angústia de carregar em si as vibrações recebidas no período infantil, totalmente em desacordo com suas necessidades e incapaz de barrar o intenso fluxo de energias do passado, clamando por organização.

Continuamos….

Série: Os desafios do Crescimento....


Parte 1 - Crescer dói???

Estou psicóloga, escolha muito bem delineada num programa para me libertar e crescer. Neste intricado processo de me libertar das prisões que eu mesma criei, aprendo a cada dia com aqueles seres que num ato de confiança compartilham comigo suas dores, seus conflitos conscientes e inconscientes, na esperança de que eu possa lhes tirar dos quadros angustiosos que vivem.

Infantilmente, um dia acreditei que isso era possível, mas a vida que sou rapidamente se encarregou de me mostrar que somente o Ser em si mesmo pode se tirar destes quadros e que o melhor que eu podia fazer era aprender com estas oportunidades únicas, avançando no meu crescimento e acompanhando aquela Vida no seu. Aprendi que não há caminhos a se ditar para o outro e que a terapia é um processo de aprendizado conjunto, onde se exercita o respeito e a aceitação pela manifestação de outra Vida nas condições em que se apresenta.

A profissão foi o caminho que escolhi para aprender a conviver e amar, onde exercito o estar com o outro além daquilo que meus sentidos podem captar.... estar com o outro em sua dor, para que estas deixem de ser surdas e mudas e se tornem ouvidas por ele mesmo.

Nesta série de artigos que inicio aqui, falando das dores e superações do crescimento, não trago nada de novo, somente a organização de algumas ideias que fazem parte do farto manancial de informações que a Equipe de Amor a Luz vem nos trazendo ao longo destes anos, acrescidos de algumas ilustrações de casos clínicos, que com a permissão daqueles que me confiaram seus pensamentos, dúvidas e dores, reparto com vocês, ressalvadas as identidades, para que possamos caminhar juntos neste processo de libertação, avançando na compreensão da Vida que somos. Espero ter sensibilidade suficiente para conseguir transmitir com fidelidade aquilo que recebi.

Gostaria de começar questionando sobre a questão de se libertar. Libertar do que? O que tem nos travado e impedido a marcha rumo ao crescimento? O quê está nos aprisionando?

Abordando sobre a temática da esquizofrenia, o Educador Carlos nos dá a seguinte informação:

Nesse período de transição em que a criança psicológica não consegue fazer, ela fica perdida no inconsciente arcaico.... então este ser está em permanente estado de angústia ou ele cinde com toda a realidade e sofre do processo que chamamos esquizofrenia. É por isso que esta criança perdida nos porões do vosso inconsciente ou do que nós chamamos de psiquismo, esta criança pede para ser abraçada, amparada, tutelada. Mas ocorre um fator altamente doloroso, esta criança é a maior trava de vossa inteligência. Ela não permite à psique manifestos inteligentes. Ela não permite a ação de movimentos que possam embasar, estruturar a sua autonomia. Por que ela foi educada para permanecer infantil, ela foi educada para ser dependente afetiva. (Fonte EEFE 07.02.2010 pág. 31)

Crescer implicará em encontrar o rastro desta criança, ouvir e dar vazão às suas dores, guiando-a em direção à transição a ser feita. Este quadro por si só já ressalta o quanto esse processo de crescimento pode ser doloroso. Dependentes afetivos e educados para permanecermos infantis, os desafios da adolescência se agigantarão na mente superlativa desta criança, parecendo intransponíveis, restando a ela criar os esconderijos psíquicos para se proteger.

O fato é que todos nós, candidatos a uma etapa de transição da consciência humana para a consciência espiritual, ou em outras palavras, transição da fase infantil para a fase adulta, somos atingidos por este intricado e angustioso processo psíquico.

Questionemos um pouco: O que implica adolescer? Como é deixar o corpo infantil para habitar um corpo novo, ainda não definido e que sofre alterações a cada dia? Como é transitar de uma realidade imaginativa, de um mundo de faz de contas e ilusões para o mundo real, com seus quadros que se afiguram tão duros, exigentes e por vezes cruéis? Como é renunciar a dependência de nossos mitos e heróis infantis: nossos pais? Como é enxergá-los não mais revestidos das qualidades mágicas e poderosas que lhes atribuímos com nossa visão infantil, mas como seres frágeis, deficientes, carentes e tão perdidos quanto nós? Como é se sentir só, profundamente só em meio a um mundo novo, onde tudo parece confuso e em constante mutação?

Tenho ouvido de alguns pacientes na puberdade e início da fase adolescente as seguintes indagações: “Qual a vantagem de crescer? Por que eu tenho que crescer? Crescer dói? Não vejo nada de bom em crescer, é chato e muito difícil.... gostaria de permanecer criança para sempre, é muito melhor.”

Acompanho terapeuticamente uma jovem há quase três anos. Atualmente ela conta com 18 anos e deu os primeiros passos este ano para deixar a “terra do nunca”, onde resistia bravamente aos chamados do crescimento.... lentamente foi identificando a criança em si mesma e penetrando no desafiante mundo da adolescência. Faço anotações dos atendimentos e solicitei que ela fosse escrevendo seus pensamentos e sentimentos num diário, como forma de obter algum alívio e processo de organização, o que possibilitará acompanhar nestes artigos algumas de suas falas para ilustrar o processo.

Tenho aprendido muito com ela e me emociono com seus relatos tão profundos do que está sentindo e vivendo. Há alguns meses atrás ela estava ali no meu consultório, corpo de mulher, mas encolhida como uma criança, olhar assustado, abraçada a uma almofada, chorava compulsiva e dolorosamente, num dos seus inúmeros encontros e confrontos com a sua criança perdida: “Não quero crescer.... e se meu pai não gostar mais de mim? E se ele começar a me achar sem graça? Sempre fui a menininha dele... acho que ele está sentindo que estou deixando ele e fica me abraçando, querendo que eu sente no colo dele, como se quisesse aproveitar meus últimos momentos com ele... Tenho medo de perder o amor dos meus pais, aquela magia de quando era criancinha... Acho que se crescer, tudo o que eu gosto vou perder e não vou ganhar nada em troca.”

Em outro relato, então em seu diário, coloca:

“Hoje meu irmão caçula chegou de viagem e meu pai falou para minha mãe: Nossa, como nosso filho tá grande, tá enorme, um homem, eu não tenho mais aquele alemãozinho. Nossa, pra mim isso foi super triste, sabe, eu fiquei triste por ele estar crescendo, por eu estar crescendo, por meus pais estarem sentindo falta de quando éramos criança e o pior é que eu não posso fazer nada sobre isso.”

Deixar a infância e penetrar na adolescência equivale a fechar um ciclo, portanto, enfrentar um processo de morte, onde aquela criança desaparece para dar lugar a um estranho. Trata-se de um luto para os pais e para o infanto. Sob o olhar assustado da criança ela vê ameaçado de desaparecer todo seu mundinho conhecido.... o corpinho infantil desaparece e com ele toda uma forma de sentir e pensar, um sentimento de solidão e desamparo, impotência e morte começa a invadir o psiquismo infantil, na chamada puberdade, onde o Ser começa a tomar contato com outra realidade que se aproxima a passos largos e ameaça arrastá-lo. Muito comuns neste período são os sonhos envolvendo a temática da morte e um súbito medo de que alguém próximo morra, como também são notadas significativas alterações de humor nesta fase, uma maior irritabilidade e um sentimento de tristeza que parece começar a tomar o lugar da vivacidade infantil.

Uma dura batalha começa a se manifestar na intimidade deste Ser que adentra à puberdade, como que prenunciando as lutas a serem travados no período adolescente. Sem o amparo de uma educação que possa lhe dar o suporte necessário para esta travessia, o caminho será não fazer a transição psicológica pela adolescência, configurando-se o desajuste entre a idade fisiológica e a idade psicológica, ou seja, o corpo avança e adentra as fases existenciais, mas o psicológico permanece preso à infância. O psiquismo está travado por uma criança que não pode crescer. O outro caminho possível é o processo de cindir com a realidade, dita esquizofrenia, por não ter sido estruturado para suportar as invasões do seu próprio psiquismo neste período, que lhe produzem dores atrozes.

Comparo a adolescência a uma comprida ponte que faz a transição inevitável de um lugar ao outro, mas uma ponte móvel, daquelas que a cada passo balança e nos mostra a instabilidade do momento, gerando temores e dando vontade de voltar para o firme ponto de onde saímos. É preciso coragem para se dispor a atravessar essa ponte, o medo de cair e de não conseguir chegar ao outro extremo é inevitável. Mais fácil seria essa travessia se pudesse contar com barras laterais para nos apoiar e oferecer o suporte mais seguro a cada passo dado. Feliz daqueles que podem contar com essas barras de sustentação na figura de educadores que se encorajaram e fizeram sua própria travessia.

Encerro estas linhas, como digo para mim mesma e para aqueles que partilham um pouco de suas Vidas comigo... Crescer dói! É exigente, doloroso e desafiante, mas infinitamente mais doloroso é ter em seu psiquismo uma criança escondida, afunilada e em estado permanente de angústia. Crescer dói, mas liberta!!!

Continuamos no próximo artigo, abordando um pouco mais sobre os esconderijos psíquicos da criança.