Os Desafios do Crescimento…
Esconderijos Psíquicos…
Nos artigos anteriores abordamos a questão de que trazemos no nosso arcabouço psíquico a criança
que fomos um dia. Ela permanece aprisionada em nosso psiquismo como uma força viva e atuante
que não se esconde e fica quieta, mas se utiliza de arquétipos, os ditos esconderijos psíquicos para
encobrir suas dores.
Um arquétipo amplamente utilizado como esconderijo psíquico das dores infantis é o do religioso.
Este oferece amplas vantagens e se encaixa perfeitamente na movimentação psicológica infantil.
Através deste arquétipo reforça-se a área infantil, onde se atribui a uma força fora de si mesmo, a
um Deus, um guia religioso, sacerdote ou salvador a responsabilidade pelo que se vive, sustentando
a dependência, impotência e fragilidade infantil.
Reforça-se ainda através deste esconderijo a dissimulação dos sentimentos, onde os ditos
sentimentos malsãs são encobertos por uma imagem idealizada, onde predominam conquistas
espirituais ilusórias que são amplamente reforçadas pelo meio e geram a falsa noção de suprimentos
das necessidades infantis de aprovação e validação…..assim, continua-se a reproduzir o triste
capítulo infantil de uma história onde aprende-se que para sobreviver emocionalmente é preciso
abafar, negar e reprimir sentimentos e tendências para ser aceito, arremessando-se cada vez mais
longe de sua essência e das verdadeiras e reais conquistas espirituais.
Continua-se assim a reproduzir o faz de conta infantil idealizando um salvador fora de si, que
apontará o caminho a ser seguido ou ainda, de uma forma mágica retirará “seus pecados” e o
conduzirá para uma vida jubilosa.
Forçoso é admitir que estamos prisioneiros da infância, adultos infantilizados, dominados pela força
psicológica infantil. Altamente carentes, vivenciando amplamente o sentimento de abandono e
solidão, a espera de encontrarmos alguém que se encarregue de cuidar de nós e suprir nossas
necessidades. Irresponsavelmente permanecemos estacionados a espera de um milagre que nos tire
da situação que estamos e atribuindo as causas exteriores a razão das nossas dores.
Sustentamos ainda em nossa área psicológica infantil, a imagem dos pais poderosos, mitológicos,
responsáveis por tudo que nos ocorre, permanecendo cativos e dependente de sua aprovação e na
eterna busca de seu amor. Todo o meio, parceiros, filhos, amigos, chefes, autoridades religiosas vão
sofrendo a projeção da representatividade de nossos pais e vamos transferindo essa cadeia de
dependência, expectativas, buscas e frustrações.
Ouso dizer que além de uma criança cativa dentro de nós, temos nossos pais aprisionados como
imagens, verdadeiros fantasmas a nos perseguir e assombrar. É preciso libertar a criança e
juntamente com ela seus pais, compreendendo que estes são individualidades tão humanamente
sobreviventes emocionais quantos nós, aprisionados a seus próprios dramas e conflitos, carentes de
também se libertarem.
Ao longo dos estudos que tenho feito sobre essa área psicológica infantil e através dos relatos que
tenho ouvido, percebe-se que a grande dor infantil reside no fato de não ter se sentido visto e
devidamente percebido pelos pais na sua essencialidade, pois numa esmagadora maioria, os pais
enxergam em seus filhos a própria representatividade de sua criança interna.
http://www.tempodeser.org.br/ Impresso em 03/02/2011 05:44
http://www.tempodeser.org.br/comunicamcorm:purnivic:aedmiocar:op8r0iv:o:esd_idceasoa8fi0o:so_sd_odecsraefisocsimdeon_tcorescimento Última atualização: 29/12/2010 10:16
Essa dor tão inerente ao processo humano precisa ser encarada e enfrentada. No estágio humano de
consciência é assim, não somos realmente vistos e percebido em nossa individualidade por nossos
pais ou cuidadores e aqueles que tiverem filhos dentro desta etapa de consciência reproduzirão o
mesmo padrão, mantendo-se um ciclo repetitivo.
Precisamos encarar também que nunca vimos nossos pais além do papel que eles representaram e
assumiram em nosso psiquismo. Percebidos pela visão e ótica infantil foi a eles atribuído um papel
definido em nossa vida e inúmeras projeções. Assumiram a representatividade de verdadeiros mitos,
Deuses em nosso mundo inconsciente e assim permaneceram ali aprisionados. Como mitos
permaneceram idealizados, intocáveis, admiráveis, temidos e totalmente desconhecidos. Mais uma
cela construída da qual precisamos nos libertar.
Quem são os seres que estão ou estiveram nossos Pais? Alguma vez vislumbramos ainda que
palidamente a individualidade por detrás do papel de Pai ou Mãe? Interessamo-nos e sensibilizamos
em algum momento pela sua trajetória? Tivemos algum desejo real em conhecê-los ou não passaram
de meros supridores de nossas necessidades infantis?
Urgente se faz nos tirar da posição infantil de responsabilizar nossos pais por tudo que vivemos hoje
e nos assumirmos como autores de nossas Vidas. Tendo em vista nossa longa jornada humana até
aqui, é necessário concluir que os pais da atualidade são somente uma pequena fração na Vida que
somos. Quando aqui aportamos já carregávamos conosco o patrimônio de nossa jornada evolutiva e
milênios de sobrevivência: A Dor.
Olhemos para nossas dores, não mais como crianças responsabilizando fatos, seres e situações fora
de nós por elas. Sentir é inerente ao ser sensível e a dor nada mais é que um estágio de
sensibilização do Ser essencial que somos.
Que possamos nos capacitar para olhar nossas dores e admiti-las como patrimônio nosso, fruto da
jornada humana, buscando suas causas e superações no único local possível: dentro de nós.
Está na hora de contarmos para nós que não aparecerá um salvador como nos contos e mitos
infantis para nos resgatar…. este trabalho é íntimo, intransferível e cabe a cada essencialidade em si
mesma. Necessário se faz renunciar a dependência e passividade e começarmos a nos ver como
seres aptos e capazes de direcionar a Vida que somos.
Para tanto, atravessaremos um longo caminho por um local onde nunca estivemos - nosso
inconsciente, esta área invisível onde se esconde esta força infantil que tem travado a marcha da
inteligência que somos nos mantendo cativos a padrões e defesas cristalizadas que não se sustentam
mais e são hoje motivo de distorções e de nossas maiores dificuldades.
Enfim, precisaremos reconhecer que estamos cansados, muito cansados de nos defender, fugir e
atacar, dentro de um ciclo repetitivo, onde percebemos e sentimos a Vida por um estreito vão…. o
vão de uma visão infantil, humana, superlativa e ausente de responsabilidade que já não nos cabe
mais.
Tenhamos coragem para penetrar no desconhecido mundo íntimo, enfrentar suas dores, iluminar a
área sombria dos sentimentos que lutamos para manter encobertos e trazê-los à luz da consciência.
Somente assim, retomaremos ao ponto do caminho onde travamos a marcha e caminharemos para
uma Vida consciente, responsável e autônoma.
Não cultivemos mais visões infantis e ilusões pueris, desenvolver a espiritualidade é nos colocar de
frente as forças construídas em nossa área inconsciente.
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